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SBC Forum (Sociedade Brasileira de Cuteleiros) Everything about Brazilian custom knives and knifemakers - this is the official forum for the "Sociedade Brasileira de Cuteleiros". "O forum oficial da Sociedade Brasileira De Cuteleiros - tudo sobre o mundo da Cutelaria Artesanal no Brasil!" |
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Sustentabilidade?
SUSTENTABILIDADE?
Marcos Soares Ramos Cabete Mar?o de 2013-03-11 Vez ou outra algu?m reinventa a roda e ?s vezes at? a patenteiam. A reciclagem conheci muito em minha inf?ncia, mas simplesmente n?o tinha este nome. Era transforma??o, reaproveitamento de materiais, economia, e muitos outros nomes. J? citei isto no causo ver?dico do ?Boi V?io e a Reciclagem? em meu livro "Causos do Cabete" editado em 2012. Agora a palavra da moda ? a SUSTENTABILIDADE uma bela palavra que veio dar um nome novo ao que muitos j? fizeram e fazem por d?cadas e mais d?cadas. Meu pai, o Cidonio, colocava palha de arroz no ch?o do chiqueiro. Esta palha retirada toda semana junto com as fezes (bosta) dos porcos era amontoada para curtir e depois ia alimentar os p?s de caf?, a palha (casca) do caf? tamb?m era curtida e ia realimentar o cafezal. A fermenta??o destas palhas gerava tanto calor que ?s vezes o interior do monte incendiava e s? sobravam cinzas. N?s, as crian?as da ?poca, enterr?vamos batatas doces nestes montes de palhas e ap?s algumas horas elas estavam assadas para nos deliciarmos. A Tia Vitoria (tia de meu pai), irm? da v? Helena, havia morado em uma fazenda na Serra da Mantiqueira, que forma linda vista na paisagem altinopolense, depois se mudou para a cidade. Diziam que ela n?o desperdi?ava nada e dentre seus h?bitos econ?micos estava o de misturar ao caf? novo que estivesse coando as sobras do caf? velho, mesmo que do dia anterior. Em tom jocoso e sempre com um sorriso tinha sempre algu?m que dizia anos depois que o caf? da Tia Vit?ria ainda tinha um pouco do caf? coado na Serra! O tio Guilherme, desta mesma turma de italianos econ?micos, os Bonolos, afiava bem seu canivete pica-fumo, comprava uma caixa de f?sforos e pacientemente cortava longitudinalmente os palitos com suas cabe?as fazendo o dobro de palitos. Mesmo que um ou outro falhasse ele saia lucrando nesta sustent?vel tarefa de acender constantemente seus cigarros de palha. Por falar em cigarros lembro-me que no sitio plantavam fumo e na colheita se reuniam em mutir?o para colher e para enrolar as folhas. Com isto os participantes tinham direito a certa por??o de fumo de corda que alimentava seus v?cios ao longo de um ano at? a pr?xima colheita. Tamb?m nesta tarefa nada se perdia. Os peda?os de folhas de fumo que se rasgavam eram guardados em um caixote e alimentavam os toscos cachimbos de algumas pessoas mais pobres como o Dito Chic?o ou a negra Dona Margarida. A v? Helena, minha av? paterna reclamava muito dos cigarros de filtro, pois ao redor da casa havia uma cal?ada irregular de pedras que ela varria religiosamente e tinha que retirar os filtros de cigarros jogados e que n?o tinham qualquer utilidade j? as quimbas de cigarro de palha eram recolhidas, desmontadas e o fumo concentrado destas sobras iam para um garraf?o de vidro formar um caldo escuro que depois se juntava ? sobra de ?gua com sab?o de cinzas da lavagem de roupas e com esta mistura ela lavava uma a uma todas as folhas dos p?s de couve da horta, que ficava ao lado da caixa d'?gua que abastecia o batedouro de roupas, suas couves n?o tinham um ?nico pulg?o. Atitudes que hoje chamamos de sustent?veis, mas ?quela ?poca eram h?bitos econ?micos vindos da It?lia com estes imigrantes que s? dispunham de sua for?a de trabalho como capital inicial para criarem suas empresas e desbravarem o grande Brasil. Devido a este esfor?o para construir um patrim?nio esta querida av? dava bronca em quem colocasse muita pasta de dentes na escova ou usasse um peda?o grande de papel higi?nico. Ela, suas filhas e noras, faziam cera para o piso com cera de abelhas, parafina, vermelh?o destes de se misturar ao cimento e gasolina, mistura que era perigosamente juntada no fog?o improvisado e queimou muita gente por aquela ?poca. Para os pisos de assoalho n?o se usava o vermelh?o que era usado nos pisos sempre vermelhos das cozinhas e varandas. Capturar e reter por d?cadas o carbono da atmosfera era algo praticado por todos. Paiol, chiqueiros, paredes internas das casas como nosso sobrad?o de 1919, assoalhos das salas e pavimentos superiores eram feitos em madeira. As paredes e assoalhos do sobrado est?o segurando o carbono desde 1919. Uma parede at? j? virou uma mesa para nossa varanda e continuar? determinada a n?o largar seus carbonos... E as casas do sul do Brasil que eram inteiramente de madeira? Porque foram substitu?das por outras de tijolos e cimento que emitem e n?o ret?m carbono algum? Casas de madeiras de reflorestamentos n?o seriam muito mais l?gicas neste momento cr?tico por que passamos? Outro detalhe deste casar?o ? o reboque das paredes e a massa de assentamento dos tijolos que s?o feitos de barro e a casa est? firme e forte desde 1919 passando por prec?rias e muito espor?dicas manuten??es. H?bitos sustent?veis como apagar as luzes dos c?modos onde n?o estiv?ssemos, economizar ?gua mesmo que a caixa d'?gua estivesse transbordando pelo ladr?o, s? acender a lanterna nas caminhadas noturnas se n?o houvesse uma boa lua a iluminar o caminho, e tantos outros eram praticados e ensinados por nossos pais todos os dias. Respons?vel que era por fazer diariamente a lavagem dos porcos, n?o me era permitido o uso de f?sforos para acender a fornalha que aqueceria a ?gua onde iria cozinhar o fub?, o farelo de arroz, ab?boras, inhames, galinhas e outros animais mortos. Ensinaram-me a montar um ninho que come?ava embaixo com gravetos grossos ou sabugos de milho e passavam aos gravetos finos e palha seca de milho. Pegava ent?o uma p? e ia ao fog?o da cozinha pegar algumas brasas que eram depositadas neste ninho e assopradas at? que o fogo acendesse. Em anos desta tarefa de alimentar os porcos nunca usei um palito de f?sforo que fosse, mas de uma forma sustent?vel usei troncos de bananeiras, galinhas que morriam de doen?as ou acidentes, cachorros e gatos que precisavam ser sacrificados e at? mesmo o carv?o da fornalha que aquecia a ?gua era disputado e devorado pelos sempre famintos su?nos ap?s cozidos com o fub? e o farelo de arroz que tamb?m era uma sobra do beneficiamento (descasque) do arroz em uma m?quina que t?nhamos no s?tio. A tarefa quase que di?ria que o Tadeu, meu irm?o mais velho e eu t?nhamos de coletar lenha seca e gravetos pelo cerrado muitas vezes nos rendia um belo tatu galinha de mistura. N?o cort?vamos ?rvores, apenas colet?vamos madeira das que haviam morrido e garant?amos energia para o cozimento de nossa comida, da comida dos porcos, energia para ferver e limpar as roupas, energia para minha m?e produzir goiabada com goiabas que colet?vamos pelos pastos enchendo uma carro?a v?rias vezes, energia para fazer sab?o, para derreter o toucinho dos porcos fazendo a banha com a qual as comidas eram feitas, energia para torrar o caf?, para passar as roupas nos ferros ? brasa, para ferver a ?gua que depenava as galinhas e pelava os porcos e para fazer as fogueiras que animavam nossas festas juninas! J? morando na cidade vi que o av? de um amigo sempre separava as duas folhas do papel toalha ou guardanapos de folha dupla e minha tia Neta lavava secava e reaproveitava varias vezes os filtros descart?veis de coar caf?. Tamb?m tive a oportunidade de ver a??es tecnol?gicas sustent?veis, foi assim que meu pai fez o po?o d'?gua no topo do morro, mais alto que as casas e a ?gua era retirada por sif?o utilizando t?o somente a energia da gravidade para chegar a nossas torneiras. Em visita ? Fazenda Velha quando l? moravam meu primo Man? e sua esposa Dorinha testemunhei o Man? utilizar uma velha estrutura de colch?o de molas para montar sobre o telhado da casa uma excelente antena de TV. Mas o mais pitoresco foi quando ?amos o Man? e eu em um antigo caminh?ozinho Ford ou Chevrolet da d?cada de trinta e o caminh?o ficou sem freio por falta de fluido. O Man? abriu o reservat?rio de fluido sobre o burrinho mestre do freio, equilibrou-se de p? sobre o motor e urinou dentro do reservat?rio completando o n?vel do mesmo. Tal estranho e "sustent?vel" recurso t?cnico nos permitir continuar e chegarmos ? grande Altin?polis. "A cidade dos mais belos panoramas do nordeste paulista" como sempre anunciava a emissora de r?dio local. - # - __________________ Marcos Soares Ramos Cabete kbt@brascopper.com.br Ribeir?o Preto-SP - Brasil |
#2
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Cabete,
Adorei o texto e acabei relembrando coisas da minha inf?ncia, h?bitos sustent?veis que pens?vamos n?s da capital ser "coisa de caipira" ... s?bios caipiras. Sauda??es afiadas, __________________ |
#3
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Otimo texto Cabete
So de pensar que podiamos ter um mundo melhor e a maioria das pessoas n?o est?o nem ai pro que vem ocorrendo com nosso planeta, dizem que que o mundo s? v?o acabar daqui alguns milh?es de anos, mas n?o pensam que no futuro aspessoas de hoje v?o ser vistas como vil?s de toda essa hist?ria. Lembro que no s?tio que mor?vamos meus av?s tinham alguns h?bitos parecido com outra que voc? citou, o que meu pai carrega at? hoje e o de coar o caf? do dia anterior com o novo. Ca entre nos, parece que o cafe assim fica mais gostoso do que se nao usasse um pouco de cade requentado hehehe Se cada um dizer a sua parte o mundo e todas as gera??es que viram v?o nos agradecer mesmo sem saber Last edited by Segantin; 03-15-2013 at 10:59 PM. |
#4
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Meus av?s tamb?m tinham mania de reaproveitar as coisas: cal?a velha, panos e camisas rasgadas, viravam colchas ou tapetes, tenho uma tia-av? que ainda faz.
Tamb?m tenho manias de aproveitamento, costumo usar o lado branco de pap?is, que veem junto das contas, folha do m?s passado do calend?rio... como rascunho. Abra?os. __________________ Rogerio Savoia Ribeir?o Preto - SP - Brasil rogeriosavoia@rsavoia.com.br www.rsavoia.com.br |
#5
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Tamb?m gostei muito de ler. Faz nos pensar e refletir o que nos espera no futuro.... Eu tamb?m n?o me acostumo com essas coisas.... Acho que "uma vida simples" seria a solu??o pra tudo. O problema ? que a nova gera??o nem quer ouvir isso. S?o viciados em tecnologia e nesta vida t?o fren?tica. As vezes penso em largar este mundo doido da cidade e ir pro mato.
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#6
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Eu tenho que concordar, foi maravilhoso ler e me fez sorrir.
Praticamente todas as facas que eu fiz foram a partir de sucata e materiais reciclados. Esse tem sido o meu tema principal e um h?bito que herdei de meus pais. Esperamos que voc? vai perdoar todos os erros de ortografia e gram?tica, eu n?o falam Portugu?s e usar um tradutor para ler os t?picos p?s voc?s, principalmente porque voc? todos produzem um trabalho muito impressionante. |
#7
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Leitura interessante e gostosa, me fez recordar de coisas da minha inf?ncia.
abra |
#8
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Buenas a todos!
Ontem eu conversava com o Cabete sobre este tema apaixonante. Meu av? almo?ava e sa?a para o quintal catar um cavaco de laranjeira para falquejar um palito. Nos criamos comendo carnes conservadas na banha. Hoje uso e abuso do reaproveitamento de alimentos na cozinha de minha casa. Churrasco vira carreteiro,carreteiro vira bolinho de arroz e assim vamos. Parab?ns,Cabete,pelo exemplo trazido ? tona! Abra?os! Roberto Vianna Porto Alegre - RS |
#9
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Grato a todos!
Amigos, obrigado a todos pelos comentarios.
Uma coisa que tem me chateado nos ?ltimos tempos ? o pre?o do carv?o. Cada vez de fazer churrasco ? uma pontada no bolso. Creio que logo logo o carv?o de um churrasco vai pesar mais no bolso do que a carne. Sei que tem gente que parte da lenha, assim como na parrilhada uruguaia mas ter?amos que construir outra churrasqueira e nos adaptarmos ao novo m?todo mas o problema continuaria, ter?amos que sair ? cata da lenha. Acho que a solu??o deva estar nos res?duos industriais das fabricas de m?veis, serragem compactada e trasformada em um bom carv?o. S? vamos torcer pro molho n?o sair mais caro que a macarronada, ou o carv?o mais caro que as carnes do churrasco!! Abra?os a todos. __________________ Marcos Soares Ramos Cabete kbt@brascopper.com.br Ribeir?o Preto-SP - Brasil |
#10
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Provavelmente nenhuma dessas solu??es para o carv?o ? lucrativa o suficiente para esse pessoal olhudo. Realmente eles s? "reciclaram" as palavras.
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limpar, tanto |
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